A quem interessa desvalorizar quem garante o recurso para o Estado brasileiro?

Na última semana, o governo federal editou o Decreto nº 12.466/25, elevando a alíquota do IOF em diversas operações. A justificativa foi direta: necessidade de arrecadação. Estima-se um incremento de R$ 20 bilhões aos cofres públicos apenas em 2025. O mercado reagiu. O Congresso reagiu. Mas a sociedade, em grande parte, ainda não percebe a contradição desse gesto: como pode um governo que busca ampliar sua receita ignorar — e penalizar — justamente os servidores responsáveis por fazê-la existir?

Os Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil são responsáveis por 66% da arrecadação federal. Trata-se de uma carreira de Estado, estratégica e essencial ao funcionamento do país. Paradoxalmente, é também a única carreira da administração pública federal que permanece sem qualquer recomposição salarial. Uma greve legítima, fruto da estagnação nas negociações, já implicou perdas superiores a R$ 14 bilhões à União.

A proposta apresentada pelo governo, além de insuficiente diante das perdas inflacionárias acumuladas, é inferior à concedida a outras carreiras e prevê pagamento apenas a partir do segundo trimestre de 2026. A mensagem é inequívoca: o trabalho dos Auditores Fiscais, embora indispensável, não é prioridade. Pior ainda: tem sido alvo de retaliação. A edição de resoluções que zeram o Bônus de Eficiência dos grevistas, achatam os valores pagos a aposentados e pensionistas e ignoram o papel institucional da Receita Federal evidencia uma postura punitiva inaceitável.

A ANFIP Nacional lamenta profundamente a condução intransigente do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, bem como o silêncio de outras esferas de governo diante do desmonte da Receita Federal.

É preciso que a sociedade compreenda: os Auditores Fiscais atuam em defesa da justiça fiscal, no combate à sonegação, pela eficiência da máquina pública e pelo financiamento dos direitos sociais — educação, saúde, segurança e proteção social. Controlam a entrada, permanência, movimentação e saída de pessoas, veículos, cargas e mercadorias nos portos, aeroportos e fronteiras, além de combater o contrabando e o descaminho.  Sem eles, o Estado para. E o país perde.

Valorizar os Auditores Fiscais é investir no Brasil. É assegurar que o equilíbrio das contas públicas não dependa apenas do aumento de tributos, mas da inteligência fiscal, da fiscalização qualificada, da transparência e da segurança jurídica. É, sobretudo, reconhecer que não há justiça social sem justiça tributária — e que ambas começam no trabalho cotidiano da Receita Federal.

Ao desprestigiar quem garante os recursos que movem o país, o governo não penaliza apenas uma carreira. Penaliza o próprio futuro do Brasil.

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